quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SAIO DO VENTRE

saio do ventre
saio da casa
saio da fonte
saio na certeza de que saio para voar

saio para perto
não vou muito longe
mas vôo muito além

vou

mas vou pensando que o que não conseguimos construir
fica para trás
aguardando uma nova fase

vou

rompendo o cordão umbilical
mas sabendo que o que hoje nos une não é só ancestralidade

hoje é um intento
de realmente fazer com que as próximas gerações nos use como espelho

não desistir
mesmo parecendo impossível

conseguimos plantar sem água e com terra seca
apenas com a semente do amanha

saio hoje
de um ventre
para ter coragem de sair de novo

romper valores conservadores
destruir sentimentos ruins

saio ontem
para novas experiências

saio amanhã
para usar como conhecimento

saio do ventre

na intenção de um dia
te libertar da obrigação que te deram
te ser sempre minha
de não ser mulher
de não ser gente

um pequeno gesto para a minha humanidade
um grande passo perto dos meus tristes sentimentos

saio de ti
continuo contigo
apenas saio do ventre
para andar do seu lado

saio de ti
pensando em um novo mundo para mim

saio daqui
para sair do tempo
da religião
da educação
do mundo
da moral
do amor

saio
mas não fujo
encaro as mu(n)danças
que um dia
por trabalho natural
aconteceriam.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

VIOLAS MEU MUNDO

É triste como só posso me manifestar sob sua supervisão
Sob sua ordem
Sob sua autorização

Esse seu jeito de querer me educar
Me faz confusa
Me deixa atordoada

A ponto de não ter coragem de ser o que sou
E ser quem tenho aprendido a ser
Cheia de preceitos e conceitos
Que me fazem alguém fora do meu tempo

Sou quem sou
Faço o que faço
Mas não consigo ser quem falo que sou

Não tenho voz
Não tenho liberdade
Não tenho a coragem
Que queria ter

Sair pelo mundo
Pedir licença
Falar com Deus
Aprender outras línguas
Fazer outras danças

Quando serei filha da Terra?
Quando me aceitarás como herdeira de seu conhecimento?
Quanto posso aprender?
Tenho um limite?

Será que sabes quem sou?
Imaginas pelo olhar e pelo meu choro
Que sou mais uma do gênero fraco
Vê minhas ações
Não consegue acompanhar minhas evoluções
Imagine minhas transgressões

Violas meu mundo

Por isso não conhece meus pensamentos
Concordo com os fundamentos
Não faço por fazer
Quando faço
Meus ancestrais reagem
Tocam minha alma
Arrepia minha pele

Podes dizer o que for
Podes pensar o que for
Mas não pode agir sem conseqüência

Não te condeno
Apenas peço que compreendas
Que meu seio a mostra
Não é para sedução
E sim uma rebelião

Violas meu mundo

Com um olhar
Um gesto
Uma fala

Uma violência
Imensurável

Talvez se nos conhecêssemos mais
Não digo que seriamos melhor
Pois um elemento muda o curso das histórias

Tenho aprendido muito mais além das palavras
Tenho aprendido entre as palavras

Violas meu mundo

Mas sei que para violares meu mundo
Seu mundo também foi violado
Resiste às opressões
E se torna amargo

Não compreende a vida
Reage sem pensar
Choras em seu intimo

Seu mundo é o meu
Violaram o mundo da história
Assassinaram a mãe e o pai
E o filho está ao vento
Tio que tira os pés do chão
E te leva longe

Se não se encontra com seus entes
Se perde
Não aprende a viver
Não sonha
Não age
Não fala

Só sofre

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O QUE FAZER


Eu não quero
Não quero mais fazer isso
Ou não fazer aquilo
E desfazer isso
E deitar com a cabeça pesando mais que um quilo

Um quilo de pensamentos
Uma grama de felicidade
Um quilometro de sentimentos
Uma estrada sem destino
Uma mochila vazia
Uma alma sozinha
Um andarilho confuso

Não quero escrever sem sentido
Achando que aquela palavra
Não completa esta frase
Quero sair correndo
Não por sua causa
Mas por minha

Você saiu de sua terra
E eu nem sai de casa
Será que tudo isto
São meus pés fincados
E minha mente equilibrada

Me desculpe
Mas tenho tudo
Tenho mãe, pai, mestre, amor
Companheiros da vida
Colegas de caminhada
Amigos confusos

Será que preciso de um copo alcoólatra
Fugindo entre meus dedos
Batendo nos muros
Atravessando os sinais

Ou preciso de um jardim
Com uma grama molhada
Que meus dedos sintam minha fusão com a natureza

Essa ela
Que me pare
Que me enterra
E nunca é dada valor.

DE CASA PARA O MUNDO

Santo da casa não faz milagre
Bem já diz o ditado
Já tentei arrumar a casa
Fazer uma limpeza espiritual
Mas santo de casa não pega na vassoura

Faço de tudo
Lavo, passo, cozinho
Até dou banho nos cães
Ponho a criança para dormir
Se quer saber
Sábado à noite
Nem vou me divertir
A casa não pode ficar sozinha

Mas quer saber de uma coisa
Amanhã vou embora
Para nunca mais voltar
Vou andar pelo mundo
Conhecer novas histórias
Abrir a mente, os braços e o coração

Talvez eu salte de pára-quedas
Mergulhe em alto-mar
Entre em contato com quem já se foi
Passe à tarde com quem tenho medo

Talvez eu voe com os pássaros
Nade com os tubarões
Conheça meus ancestrais
Tire uma sesta com os leões

Não se preocupe
Dormirei no relento
Comerei quando der
Banharei quando puder

Estarei ocupada com minhas novas histórias
Com meu novo povo

Não terei casa
Não terei dinheiro
Não terei ganância
Não terei angústias

Terei o mundo
Terei valores
Terei sentimentos
Terei eu

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CANSAÇO

Tanta coisa acontecendo, e eu aqui
Pois é, quanto aconteceu e eu vivi

Pior é que...
Quanta coisa aconteceu
Eu vivi e nem senti

Melhor seria
Ter pensado menos
Ter vivido mais
Agora não estaria preocupada com o que vai acontecer

Seja na segunda, sexta ou domingo
Até no sábado
Ah! No sábado começa cedo e termina tarde

O que?
O que acontecerá

Quando irei mudar a ordem dos fatores
Meu relógio não ter futuro
Meu andar não ter destino

Melhor será quando poderei organizar meu dia
Não gastar meu repertório
Não viver preocupada
A ponto de não saber por onde começar
Com tão pouca coisa para fazer
E tantos sonhos para idealizar

Pois é
Quanta coisa acontecendo e eu aqui
Preocupada com o que está acontecendo
Não vivendo
Achando que estou sobrevivendo
Da brisa,
Do ar gelado
Do vento parado

Este barulho que me incomoda
Não te incomoda

Na verdade,
Só me faz pensar
Quantos tambores estão batendo
E eu aqui sentada, sentindo o tempo passar
Não podendo andar
Não podendo bailar
Sobrevivendo do conhecimento que um dia acaba
Ou cansa.

ENXAQUECA

Um dia escrevi sobre várias coisas que me deixam confusa e irritada
Querendo saber até quando terei que ser algumas coisas que não sou

Um tempo já se passou
E ao invés de obter respostas,
Novas perguntas surgiram
E outras ficaram tão profundas
Que atravessou meu imaginário e não voltou.
Será que um dia elas voltam?
Será que virão respondidas ou continuarão sem respostas?

Sinto uma dor de cabeça inconstante
Tem hora que penso que são meus olhos
Cansados da tarefa rotineira que eles realizam
Tem hora que penso que ando tomando muito café
Alterando meu sistema nervoso
Me mostrando que não tenho controle
Tem hora que penso que estou dormindo pouco
Mas deito cedo e acordo tarde
E ela continua aqui

A dor de cabeça, às vezes me dá um sossego
Mas quando ela volta, volta daquele jeito
Me tirando o animo para idealizar e realizar

Leio na revista que a tal dor de cabeça pode ser uma enxaqueca
E que a maioria das pessoas que sentem são mulheres. Sou mulher.
Talvez seja a resposta para a minha tal dor de cabeça
Que não quer ir embora

Pelo contrário
Quer se alojar no meu peito
Pressionar meu coração
Pedir um afago das mãos
E ser olhado por mim

Será que essa enxaqueca é a da revista?
Ou é a dor de sinto enquanto escrevo esse poema?

quinta-feira, 31 de março de 2011

REVOLTA E DESABAFO

Por que preciso me revoltar para falar que isto tudo não tem dono?
Que minha terra não tem fronteiras.
Ordenas o que ordenas.
Decretas o que decreta.
Oprime.
Reprime.
Mutila.
Mata.
Assassina.
Até enterra.
Não me pergunta.
Nem a mim nem aos seus conselheiros.
Sentimental ou fiscal.
Por que ocupas?
Por que destrói.
Por que tiras meu sustento?
Se fosse só o meu!
O meu e o do seu vizinho.
Seja ele rico ou pobre.
Por que me oprime?
Te faz feliz?
Ou é apenas um sorriso sarcástico que vejo em seu semblante?
Não se ocupe com o que eu me preocupo, mas se preocupe com que eu me ocupo.
Para fazer o que eu faço, pensar o que eu penso.
E até ser o que sou exige um pouco mais de integridade.
Pode parecer impetulância, mas é só um desabafo.
Não se preocupe com a carapuça, às vezes não é para você.
Documente meu momento de liberdade e ousadia.
Falo.
Escrevo.
Me expresso.
Me liberto.
Sem medo do ontem.
Sem nome ou codinome.